Funcionando há quase três décadas, espaço do bairro do Prado oferece mais de três mil unidades de aguardente e a boa culinária regional do Agreste
Cana, lapada, branquinha, pinga. Sobram nomes e variedades deste produto genuinamente nacional, que dá fama a dezenas de destinos e atrai visitantes para conferir a fabricação e degustar a bebida brasileira mais famosa do mundo. E Gravatá, no Agreste pernambucano, integra este time graças a José Pires da Silva Neto, do Bar do Pirata, que exibe em suas prateleiras mais de três mil aguardentes. Este patrimônio gastronômico gravataense é celebrado neste 13 de setembro, o Dia Nacional da Cachaça.
O apelido curioso, assim como o apreço pela bebida, vem de um tempo em que o personagem reinava nos filmes das tardes na TV e o filho do dono da Mercearia do Tio João, no bairro do Prado, era jovem vaidoso, que corria de bicicleta e chamava a atenção da vizinhança quando fora do balcão.
Depois de 13 anos como camelô, “vendendo de tudo”, Pirata herdou o negócio da família, e expandiu o gosto de colecionar cachaças e fazer suas “misturadas” – aguardentes com ingredientes variados. São 60 tipos à disposição dos clientes, a exemplo de abacaxi com coco, canela, jenipapo, maracujá, caju, morango, maracujá, tamarindo, umbu, jaboticaba, romã e até de jaca.
A antiga bodega virou bar e restaurante, ocupando a sede original da mercearia e mais três casas na Rua da Encruzilhada, incluindo uma área aberta com mesas na calçada. No acervo, além das milhares de garrafas de cachaça e aguardente, muitos licores. Há até uma máquina onde é possível colocar uma moeda e receber uma lapadinha.
“Tenho cachaças de Minas Gerais, Paraíba, Alagoas, Bahia, São Paulo, daqui do Estado e até do Paraguai. A mais valiosa é um rótulo especial da Maria da Cruz, que sai por R$ 7 mil a unidade. Tenho cachaças de mais de 40 anos, e todas à venda”, fala, orgulhoso, o Pirata, que não bebe há pelo menos 20 anos. “Admiro muito a produção nacional e procuro lançamentos, além de adquirir repasse de acervos de antigos colecionadores. Não deixei de valorizar”, diz.
Aos fins de semana, as 95 mesas do restaurante são disputadas e não só por amantes da aguardente. A boa culinária regional, marca da gastronomia de Gravatá, tem no Bar do Pirata espaço certo, a começar pelos vários tipos de caldinhos: de feijão, fava, mão de vaca, dobradinha, cebola queijo, bacalhau, camarão, charque e frutos do mar. Os mais resistentes encontram conforto em pratos “muito bem servidos” de arrumadinho e chambaril.
A decoração segue o apelido do proprietário, com lemes de embarcações, baús em madeira e pôsteres, muitos deles exibindo closes do próprio Pirata gravataense. O investimento é recompensado com a venda de quase 600 doses de cachaças e aguardentes por mês. Entre as preferidas, estão a Seleta, Boazinha, Famozinha e Germana. “Recebemos muitos turistas, que vêm com amigos ou por meio de agências de receptivo, em excursão, principalmente na alta temporada. E no Carnaval, botamos o Bloco do Pirata na rua, na sexta-feira pré”, revela o empresário, que colocou a cidade de Gravatá na rota dos apreciadores da cachaça no Brasil.
Reportagem: Janaína Lima (SECTURCEL)
Fotos: Anderson Souza (SECOM)