Realização do evento, que aconteceu no domingo (28), na ETE Professor José Luiz de Mendonça, foi da Comissão Os Malunguinhos Gravatá e Comissão Comalungos-PE e teve apoio da Prefeitura Municipal
Celebra Malunguinho em Gravatá, evento que marcou os 190 anos do martírio de Malunguinho, líder quilombola e referência histórica para os povos tradicionais de Jurema, aconteceu no domingo (28), na ETE Professor José Luiz de Mendonça, com palestras e Gira no encerramento.
A realização foi da Comissão Os Malunguinhos Gravatá e da Comissão Comalungos-PE, reunindo pesquisadores, mestres, doutores e representantes de comunidades tradicionais para refletir sobre o legado dos Reis Malunguinho. O encontro contou com o apoio da Prefeitura de Gravatá, por meio da Secretaria de Turismo, Cultura, Esportes e Lazer – SECTURCEL, da Secretaria de Comunicação Social e Imprensa – SECOM, da Secretaria de Saúde e da Secretaria de Segurança e Defesa Civil, por meio da Guarda Civil Municipal.
O evento teve palestras importantes, com as participações de Cleber Cavalcanti de Moraes, professor da rede estadual de ensino de Pernambuco e Mestre em História; João Bamiléké Monteiro, historiador, articulador cultural, coordenador do Comalungos-PE; Prof. Bartolomeu Junior, Historiador, Doutor em Ciências das Religiões pela UFPB; e a advogada Anna Queiroz, ativista e representante de Povos de Terreiro e Comunidades Tradicionais.
O evento teve homenageados. Ogans: Ranny de Oxossí e Carlos de Kaiá; Mídia Digital: Página Macumba Ordinária – Renato Fonseca e Canal Papo Saravá – Ludval Lima Brandão; e Juremeiros: Ronaldo Abreu da Silva, João Bamiléké Monteiro, Anna Paula Costa, Neuza Maria Gonçalves de Lima e Elivelton de Luziara.
De acordo com João Bamiléké Monteiro, “Celebra Malunguinho trata-se do movimento que surgiu em Pernambuco há 25 anos atrás, quando a gente percebe que o povo negro ainda hoje é carente de referenciais históricos que fortalecem a nossa luta. Hoje, o Brasil é o segundo país do mundo em população negra e essa titularização é carregada de ancestralidade. Todos esses milhões de negros são milhões, trilhões de ancestrais, e o Malunguinho é um desses ancestrais negros, que veio pra cá forçadamente e que resistiu contra a escravidão e pós-morte ele foi reconhecido pelas pessoas da Jurema que é um culto indígena que viu em Malunguinho com a personalidade de cura, de atenção, e aí Malunguinho, por mais que a historiografia tenha invisibilizado ele, nesses 190 anos, o povo de terreiro preservou essa memória de Malunguinho nos terreiros, nos cultos, nos cânticos. Gravatá está na rota que Malunguinho criou, porque o quilombo de Malunguinho foi o segundo quilombo de maior potencial do Brasil, depois do quilombo de Zumbi. Ele começava em Recife e ia até a fronteira da Paraíba. Mas tem documentos que registram a fuga de componentes desse quilombo da região de cá. O historiador Pereira da Costa, no final do século XIX, já faz esse registro que aqui na fronteira de Gravatá, Chã Grande e Pombos existe comunidade remanescente, emigraram para cá, fugindo das lutas que foram impetradas pelo governo contra o quilombo de Malunguinho”.
O professor Mestre em História, Cléber Cavalcanti, considerou que “é de suma importância trabalhar e abordar a figura de Malunguinho, essa figura histórica, ao mesmo tempo um personagem sagrado, ambos dialogam, e principalmente para quebrar determinados estigmas em relação às religiões de matriz afro-indígena. Malunguinho representa, tem uma simbologia forte, poderosa, de desconstruir determinadas narrativas dentro de uma lógica colonialista e reconstruir novas narrativas de protagonismo desse personagem histórico que a sociedade e o campo da historiografia devem uma reparação histórica a esse sujeito histórico de muita importância principalmente para os povos de terreiros, os povos da Jurema sagrada”.
Pai Aleksandro (à direita), da comissão organizadora do evento, considerou que “foi com muita satisfação que recebi o convite do historiador João Monteiro para fazer parte da Comissão Comalungos-PE e aí vimos a necessidade de reunirmos alguns Juremeiros(as) da nossa cidade, a Comissão Os Malungos Gravatá-PE receber na cidade o Celebra Malunguinho, um evento de nível não só estadual como nacional, porque já existe em São Paulo e Rio de janeiro, a importância de Gravatá receber um evento de grande porte assim a nossa cidade só tem a ganhar, porque promove fé e turismo religioso desse grande quilombola pernambucano que foi tema do desfile da Viradouro, no Rio de janeiro, em que estive lá representando nossa cidade. Isso é muito importante para nós que somos Juremeiros (as) e também da cidade”.
Juremeiro Jonas, da Comissão Malungos de Gravatá, “O Celebra Maluquinho é essa extrema importância de marcar a presença desse líder, desse ícone pra gente que é de Jurema Sagrada. Malunguinho é o guardião dos três mundos, então eu fico muito feliz em nome da Comissão dos Malungos Gravatá. E Gravatá é a segunda cidade entre as sete no estado de Pernambuco que recebeu Celebra. É muito importante, gratificante para a gente, principalmente que é da Jurema Sagrada, resistir e mostrar a nossa religião de pulso forte, que juntos somos mais fortes. A gente está ocupando os nossos lugares de dever e os nossos lugares do povo de terreiro é onde ele quer. Então a gente está na praça pública debatendo política pública para o povo de terreiro. Então hoje é gratificante a gente estar falando desse líder quilombola, esse que Malunguinho. Então o coração fica cheio de alegria e é isso. Então, o que vocês estão vendo aqui, a gente teve palestras, teve homenageados, juremeiros da cidade de Gravatá. A gente não pode esquecer dos nossos antepassados que sofreram no tronco, que derramaram sangue para a gente hoje estar aqui garantindo o nosso direito, que é pouco e a gente está lutando para ter o nosso direito garantido”.
José Eudes, diretor de Cultura de Gravatá, falou o que significou o “Celebra Malunguinho” na cidade. “O evento que celebra os 190 anos do martírio do Rei Malunguinho, promovido pelos juremeiros de Gravatá, foi uma oportunidade importante para resgatar e valorizar a história e a cultura afro-brasileira em nossa cidade. Com a participação de vários terreiros, o evento não apenas iluminou a trajetória de Malunguinho, mas também destacou a importância de sua passagem por terras de Gravatá. Além disso, serviu como um manifesto contra a intolerância religiosa, reforçando o compromisso da gestão com políticas públicas que promovam a igualdade racial e a valorização da história e cultura dos povos de terreiro e da Jurema Sagrada. Esse compromisso se materializa na criação do Conselho Municipal de Promoção à Igualdade Racial e na elaboração do Plano Municipal para Igualdade Racial, ações concretas que demonstram a importância de fortalecer esses valores em nossa sociedade”.
Reportagem: Ana Paula Figueirêdo
Fotos: Ednaldo Lourenço (SECOM) e cortesia Elivelton José de Oliveira